Doenças de gatos: Vírus mais frequentes e quando administrar a vacina

Tempo de leitura: 5 mins

Doenças de gatos: Vírus mais frequentes e quando administrar a vacina

Muitos vírus do gato estão associados a morbilidade e mortalidade elevadas. Analisamos os principais agentes patogénicos, as vias de contágio e o calendário de vacinação para a sua prevenção.

Os gatos podem ser afetados por diferentes doenças graves causadas por vírus. Muitas das doenças de gatos causadas por vírus estão associadas a morbilidade e mortalidade elevadas, pelo que é importante que os donos de gatos tenham consciência da necessidade de vacinar.

Descarregue GRÁTIS → Guia de fisiopatologia gastrointestinal do cão e do gato

Embora os gatos que vivem em casa estejam expostos a um menor risco, também é recomendável vaciná-los, já que existe sempre a possibilidade de contágio.

Os principais vírus que causam doenças de gatos. Fatores de risco e prevenção

Vírus da imunodeficiência felina (FIV)

O vírus da imunodeficiência felina é um lentivírus que tem semelhanças com o vírus do VIH. Afeta as células do sistema imunológico , destruindo-as ou lesando-as, e deste modo vai deteriorando paulatinamente a sua função imunitária, tal como assinalado num estudo publicado por John H. Elder e sua equipa 1. Na fase precoce, a infeção pode ocorrer de forma assintomática, mas na última fase é frequente os gatos terem um risco elevado de contrair outras infeções .

A via de transmissão de vírus mais frequente é através da mordida durante uma luta, já que a saliva de um gato infetado é muito virulenta. No entanto, o contágio também pode ocorrer através do contacto próximo , quer pela higiene quer pela partilha de bebedouro e/ou comedouro. As fêmeas infetadas também podem transmitir o vírus às crias. Ainda não existe uma vacina eficaz contra o FIV. Um estudo desenvolvido na Universidade de Sidney 2 reportou a maior taxa de sucesso de uma vacina, mas a sua eficácia não ultrapassa os 56%.

Coronavírus felino (CoVF)

O coronavírus felino é um vírus gastrointestinal que causa duas formas clínicas de doença: uma enterite ligeira e a peritonite infeciosa felina , uma doença multissistémica grave que pode ser seca, húmida ou mista. A forma seca caracteriza-se por lesões piogranulomatosas de caráter multiorgânico, ao passo que a forma húmida , que é a mais frequente, se manifesta com efusões no abdómen ou tórax e progride rapidamente.

Quer o guia para combater a obesidade e o sobrepeso em gatos? Descarregue GRATUITAMENTE

A principal via de contágio é orofecal . Quando o CoVF é ingerido, passa pelo sistema gastrointestinal e chega até ao epitélio intestinal pelo lúmen. Chegando aí, replica-se, causando danos epiteliais, já que possui um grande tropismo pelo epitélio intestinal maduro. Ainda não existe uma vacina eficaz. Um estudo publicado na revista Veterinary Microbiology 3 revelou que algumas das vacinas existentes não fornecem proteção a certas raças de gatos, como o Britânico de pelo curto.

Vírus da leucemia felina (FeLV)

O vírus da leucemia felina destrói ou danifica as células do sistema imunológico , ficando o animal exposto a diferentes doenças. No entanto, nem todos os gatos chegam a ficar doentes, havendo casos em que o sistema imunitário pode eliminar o vírus. Quando se produz o contágio, o vírus multiplica-se na zona bucal ou nasal , que costuma ser a via de entrada , e depois dissemina-se através da corrente sanguínea pelo resto do corpo, sobretudo na medula óssea . Em alguns casos raros, a infeção permanece localizada em algumas partes do corpo, tal como indicado por um estudo do Dr. Elliott S. Chiu, Dr. Edward A. Hoover e Dra. Sue VandeWoude 4.

O FeLV concentra-se na saliva, pelo que o contágio é feito por contacto próximo , através de mordidas, higiene, partilha de comedouro ou bebedouro ou contacto com urina e fezes. As mães podem transmitir o vírus à sua ninhada, mas é pouco provável, já que costuma causar morte pré-natal . Para prevenir o contágio, a primeira vacina contra a leucemia felina é aplicada, no mínimo, às 8 semanas de idade e a segunda dose após 3 ou 4 semanas. Recomenda-se repetir a vacinação um ano após a série inicial e depois a cada 2 ou 3 anos.

Vírus da panleucopenia felina (FPV)

O vírus da panleucopenia felina , também conhecido como esgana felina , é uma infeção altamente contagiosa causada pelo parvovírus felino que tem uma mortalidade elevada, tal como indicado num estudo de B. D. Kruse e sua equipa 5. Ataca as células de rápida multiplicação , como as da mucosa intestinal, da medula óssea e dos tecidos linfoides. De facto, o vírus replica-se no tecido linfoide da orofaringe, já que normalmente o contágio ocorre por via oral ou intranasal e, posteriormente, dissemina-se para outros tecidos. Ao atingir as defesas imunológicas, o vírus facilita a invasão bacteriana secundária e o aparecimento de septicemia.

O FPV encontra-se nas excreções dos animais doentes, assim como no sangue dos mesmos durante as primeiras fases. Portanto, o risco de contágio está associado ao contacto direto entre gatos através do nariz e da boca, ao partilharem comedouro, bebedouro e camas infetadas ou até através das mãos e roupas dos cuidadores. Durante a fase aguda, as pulgas e outros vetores também podem transmitir o vírus. Além disso, uma mãe pode passá-lo às suas crias. A vacina para o FPV pode ser usada a partir da sexta semana de vida e a segunda dose é aplicada passadas duas ou quatro semanas. Recomenda-se repetir a vacinação a cada três anos, dependendo do nível de risco.

Calicivírus felino (FCV)

Existem diferentes estirpes do calicivírus felino , tal como indicado num estudo de Jinting Hou, F. Sánchez-Vizcaíno, David Mcgahie e C. Lesbros 6, pelo que os sinais clínicos podem variar bastante. O FCV replica-se nos tecidos orais e respiratórios e depois estende-se aos gânglios linfáticos, rins, pulmões e olhos. Regra geral, os quadros são pouco graves: a infeção ocorre associada a secreção nasal, conjuntivite , gengivite e aparecimento de úlceras na mucosa oral.

No entanto, o FCV pode abrir a porta a outras infeções secundárias e ser acompanhado de pneumonia . Algumas estirpes até podem causar uma mortalidade elevada , provocando febre, inflamação e sintomas sistémicos. Este vírus transmite-se por contacto direto com um animal infetado através das secreções nasais, oculares e da saliva, assim como por objetos infetados por fezes ou saliva. A vacina para o FCV é aplicada a partir das seis semanas de vida e depois passadas 2 ou 4 semanas. Recomenda-se repetir a vacinação anualmente em gatos com um risco elevado.

Herpesvírus felino (FHV)

O herpesvírus felino causa a rinotraqueíte felina , uma doença de gatos relativamente comum que costuma causar sintomas graves. O vírus penetra as mucosas oronasal e conjuntival, costumando causar secreções nasais muito densas, dificuldade em respirar, secreções oculares, conjuntivite ou queratite herpética, febre e inapetência, tal como indicado num estudo de Gaskell R, Dawson S, Radford A e Thiry E 7.

No caso de animais imunodeprimidos ou que padecem de outras doenças, a infeção por FHV pode ser fatal . Após a infeção, o vírus migra através das terminações nervosas até aos gânglios regionais, geralmente o trigémio, onde permanece latente até haver condições propícias para a sua reativação.

Trata-se de uma doença muito contagiosa, mas o maior risco está associado ao contacto direto com gatos infetados de forma aguda , quer através das secreções orais, nasais ou fecais, quer por objetos contaminados pelas mesmas. O protocolo de vacinação para o FHV é aplicar a primeira vacina na nona semana de vida, a segunda às 12 semanas e a terceira às 16 semanas, repetindo-se uma vacina a cada 3 anos.

AFF - TOFU - RR gastro feline - POST
Referências Bibliográficas:
1. ELDER J H, LIN Y C, FINK E, GRANT C K. FELINE IMMUNODEFICIENCY VIRUS (FIV) AS A MODEL FOR STUDY OF LENTIVIRUS INFECTIONS: PARALLELS WITH HIV. CURR HIV RES . 2010;8(1):73–80.
2. WESTMAN M E, MALIK R, HALL E, HARRIS M, NORRIS J M. THE PROTECTIVE RATE OF THE FELINE IMMUNODEFICIENCY VIRUS VACCINE: AN AUSTRALIAN FIELD STUDY. VACCINE . 2016;34(39):4752-4758.
3. BÁLINT A, FARSANG A, SZEREDI L, ZÁDORI Z, BELÁK S. RECOMBINANT FELINE CORONAVIRUSES AS VACCINE CANDIDATES CONFER PROTECTION IN SPF BUT NOT IN CONVENTIONAL CATS. VET MICROBIOL . 2014;169(3–4):154-162.
4. CHIU E S, HOOVER E A, VANDEWOUDE S. A RETROSPECTIVE EXAMINATION OF FELINE LEUKEMIA SUBGROUP CHARACTERIZATION: VIRAL INTERFERENCE ASSAYS TO DEEP SEQUENCING. VIRUSES . 2018;10(1):29.
5. KRUSE B D, UNTERER S, HORLACHER K, SAUTER-LOUIS C, HARTMANN K. PROGNOSTIC FACTORS IN CATS WITH FELINE PANLEUKOPENIA. J VET INTERN MED . 2010;24(6):1271-1276.
6. HOU J, SÁNCHEZ-VIZCAÍNO F, MCHAGIE D, LESBROS C, ALMERAS T, HOWARTH D, ET AL. EUROPEAN MOLECULAR EPIDEMIOLOGY AND STRAIN DIVERSITY OF FELINE CALICIVIRUS. VET REC . 2016;178(5):114-115.
7. GASKELL R, DAWSON S, RADFORD A, THIRY E. FELINE HERPESVIRUS. VET RES . 2007;38(2):337-354.
Josep Campmany

Josep Campmany

Nº de cédula profissional: COVB 1125

Licenciatura em Veterinária pela Universidade de Saragoça e Advanced Management Program. Marketing Management (ESADE, Barcelona)